quinta-feira, 7 de março de 2013

Antes musica livre que em paz sujeita


O "Engenheiro do 5" aceitou o convite do Sons No Vento e escreveu uma breve dissertação sobre o que é ser músico nos Açores e deixa alguns conselhos a quem quer vir a vingar nesta área:

Não vás à América comprar candilhos!

                Estou a ouvir Deep Purple, “Machine Head”, que malhas, energia pura, crueza animal, sexo selvagem! Muita gente não sabe mas este álbum clássico foi gravado num corredor de hotel abandonado, com uma banda a malhar em conjunto ao ritmo do álcool que chocalhava na barriga dos deuses do rock.

                Realço no parágrafo anterior o que realmente quero dizer e é o facto de estarem a gravar em conjunto, todos ao mesmo tempo alimentando-se uns dos outros, apanhando os rasgos criativos bons e maus e compensando os maus e bons uns dos outros… Pura Uva!!

“A música é uma forma de comunicação, e para fazer música é necessário comunicar”

                Numa hora a tocar com outros músicos é garantido que se aprende mais do que em qualquer outro método, garantido! É no captar da criatividade dos outros que experimentamos a nossa, e isto deve ser entendido como essencial para a formação de um músico.

                Portanto ao tocar com outros músicos em absoluta liberdade, acto conhecido como “ JAM”, estamos no fundo a trocar favores, a trocar experiências, a ensinar a aprender tudo como se do ar viesse. Que outro ramo criativo se pode gabar de ter uma complexidade tão simples. O próprio Blues nasce de ritmos pré definidos, feitos para que qualquer um consiga acompanhar. Mas não simplifiquem as coisas, o que realmente é mestria normalmente aprende-se em 5 minutos e leva-se uma vida a dominar.

                Repare em outro aspecto astronómicamente delicioso desta arte; 80% dos músicos exprime-se musicalmente no completo oposto da sua personalidade….Pensem em alguns…Hendrix é um bom exemplo, não se apregoam de tocar com ninguém e desculpem o uso bastardo de uma estatística suja para quantificar um argumento, mas é facto que o uso de um valor percentual resulta numa aceitação imediata por parte do leitor, isso resulta 90% das vezes..

                Com medo que pense que este texto é um acto masturbativo vou directo ao assunto:

“Nos Açores não se fazem “ Jams “ e as razões de tal coisa são desconhecidas.”

                A realidade incontornável é que existem excelentes músicos nos Açores, mas não agem como músicos mas sim como cozinheiros que não querem revelar as suas receitas. Não as revelam por razões desconhecidas mas o que eles não se apercebem é que ao fazerem isso estão a ignorar conhecer novos temperos e ingredientes que muito provavelmente iriam adorar conhecer.

                Não queria passar uma imagem pretensiosa mas isto que escrevo é realmente o que penso, e agora vou dizer o que sinto.

“Nos Açores ser dos Açores é uma merda.”

                Estive 5 minutos a pensar se metia a palavra merda na frase anterior, mas prefiro ser ordinário do que não ter o impacto que quero.

                É completamente frustrante ser parte de um segundo plano criado pela percepção de falta de qualidade da música feita nas ilhas. Tanto as bandas de cover´s como as de música original são obrigadas a dobrarem-se à evidência de serem à partida piores do que as bandas do “Continente”. Isto é particularmente frustrante nos tempos que correm, pois a qualidade é tão evidente que é uma vergonha ser constantemente diluída na mediocridade aparente mas mentirosa. Podia enumerar inúmeras bandas Açorianas de grande qualidade, mas se o leitor já chegou a esta parte é porque partilha da minha opinião, e provavelmente já lhe ocorreu 3 ou 4 nomes que considera que se enquadram no que estou a escrever.

*******é agora altura de fazer um “” no meu discurso, e salientar que existem excepções. Há quem apoie os artistas regionais e não por caridade, mas sim por reconhecerem a qualidade existente e por neles verem potencialidade. E da mesma maneira que não enumerei as bandas de indubitável valor não enumerarei os promotores de valor indubitável, e o leitor por esta altura já exausto da minha escrita divagadora pode retirar as suas próprias conclusões e enumerar mentalmente de quem falo.

“O que pode ser solução”

                A indústria da música é complicada, e para nela viver é preciso uma coragem enorme. Se músico é necessário muito trabalho em busca da aceitação, muito suor muita garra! Se ouvinte, amante de música, é simples! Atende concertos! É ao vivo que tiramos conclusões, vasculhem o potencial do que estão a ouvir. Metam gosto no face da banda se gostaram, comentem! Critiquem! Ouçam! Tudo isto é comunicação, uma rede de informação que certamente resultará numa tendência.

                Para um músico o mais importante é o seu ouvinte, é para ele que todos os esforços são feitos e sem ele a música não existe.

                Dêem uma hipótese aos artistas regionais!!!!

Deixem as suas opiniões aqui!

Obrigado

 “Engenheiro do 5”

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